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Gleisi Hoffmann gera polêmica ao dizer que Bolsonaro ap… Ver mais

Uma imagem. Apenas uma. Mas com o peso de mil palavras e a potência de uma granada política prestes a explodir. No último fim de semana, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) compartilhou nas redes sociais uma fotografia em que aparece lado a lado com duas das figuras mais controversas e influentes da política internacional: Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, e Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro de Israel.

A legenda? Nenhuma. Mas o timing foi tudo — e o silêncio, ensurdecedor.

A publicação veio logo após a notícia de que os Estados Unidos haviam realizado três ataques cirúrgicos contra instalações nucleares do Irã. Um movimento que elevou ainda mais a tensão em um cenário geopolítico já inflamável, após semanas de confrontos entre Israel e forças iranianas.

No Brasil, a imagem ecoou como uma provocação direta ao governo federal. E quem respondeu, sem hesitar, foi a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

“Bolsonaro apela para uma intervenção estrangeira”, disparou a ministra, em tom duro. “Ele demonstra mais uma vez sua servilidade a interesses externos, em detrimento da soberania nacional.”

Mas o que exatamente essa foto significa? E por que ela preocupa tanto o Planalto?

O jogo simbólico por trás da imagem

Em tempos de guerra midiática e redes sociais como palco político, nada é por acaso. Bolsonaro, estrategista em sua comunicação com a base, sabe que uma foto como essa carrega múltiplas mensagens.

Ao se colocar entre Trump e Netanyahu, o ex-presidente se posiciona ideologicamente em um eixo conservador e de extrema-direita internacional, ao mesmo tempo em que acena para uma base radicalizada no Brasil — e, segundo especialistas, sugere que conta com apoio internacional para retomar o poder.

O gesto, aparentemente simbólico, pode ser lido como uma tentativa de reforçar a narrativa de que o Brasil vive sob ameaça comunista, tese recorrente em seus discursos, e de que apenas uma aliança com “forças do bem” internacionais seria capaz de restabelecer a “ordem”.

Gleisi reage: “servil a interesses externos”

A resposta do governo federal veio com rapidez e contundência. Gleisi Hoffmann não apenas criticou a publicação, como foi além: insinuou que Bolsonaro estaria tentando estimular interferência internacional na política brasileira — algo que, em tempos recentes, seria impensável, mas que vem se tornando uma constante retórica bolsonarista.

“É gravíssimo que um ex-presidente utilize o prestígio de líderes estrangeiros para tentar deslegitimar as instituições brasileiras. Isso ultrapassa qualquer limite do jogo democrático”, afirmou a ministra em nota oficial.

O tom do governo revela não apenas indignação, mas uma preocupação real com a escalada retórica do ex-mandatário, que continua a mobilizar multidões e manter influência sobre a base conservadora, mesmo fora do poder.

O pano de fundo: Irã, Israel e o mundo em ebulição

O contexto internacional torna a imagem ainda mais inquietante. Os ataques dos EUA ao Irã, em apoio tácito a Israel, marcam uma nova fase de instabilidade no Oriente Médio. E a aproximação explícita de Bolsonaro com Netanyahu, em meio a esse turbilhão, pode ser interpretada como apoio irrestrito à agenda israelense — uma pauta que ressoa fortemente entre setores evangélicos no Brasil, um dos pilares do bolsonarismo.

Para analistas de relações internacionais, a fotografia publicada pelo ex-presidente é um recado tanto interno quanto externo: uma forma de se recolocar no tabuleiro político global, mesmo sem cargo ou função pública.

A volta do “mito internacional”?

Entre apoiadores, a imagem foi celebrada como um sinal de força e articulação global. Nas redes, perfis bolsonaristas exaltaram a “aliança dos gigantes” e sugeriram que Bolsonaro estaria se preparando para algo “maior”.

Mas nos bastidores do Congresso e do Planalto, a pergunta que circula é outra: até onde ele está disposto a ir?

A retórica, o simbolismo e o momento geopolítico apontam para uma narrativa cuidadosamente construída. E, para alguns, perigosamente inflamável.

E o Brasil no meio de tudo isso?

Enquanto o mundo observa com cautela os desdobramentos do conflito no Oriente Médio, o Brasil se vê puxado, ainda que simbolicamente, para o olho do furacão. A presença de Bolsonaro em eventos internacionais, ao lado de figuras polarizadoras, e sua postura alinhada a causas externas que nada têm a ver com os interesses diretos do país, reacendem o debate sobre soberania, segurança institucional e os limites da liberdade política de ex-líderes.

O gesto pode parecer apenas uma provocação. Mas, no xadrez político, às vezes, uma única peça movimentada fora de hora é suficiente para alterar todo o jogo.

E a pergunta que permanece no ar, ainda sem resposta, é: qual será o próximo movimento?