Dias após a morte de brasileira em vulcão, outro turista cai em trilha, a nossa am… Ver mais

Por trás das paisagens exuberantes e dos pores do sol inesquecíveis, o Monte Rinjani, na Indonésia, esconde um lado sombrio — e perigoso. O que parecia ser mais uma aventura deslumbrante terminou em tragédia para Juliana Marins, carioca apaixonada por trilhas, cuja jornada terminou em silêncio, entre rochas frias e um céu de neblina. Ela caiu de um dos trechos mais íngremes do Rinjani, um destino que, até então, parecia apenas mais um desafio vencido por quem ama a natureza. Mas dessa vez, não foi assim.
Juliana era experiente. Não era iniciante, nem imprudente. Estava habituada a trilhas no Brasil e em outros países. Sabia o que levava na mochila, conhecia os sinais do corpo e da montanha. E ainda assim, a tragédia aconteceu. A queda foi fatal. Seu corpo só foi encontrado dias depois, após uma angustiante operação de resgate que mobilizou voluntários e autoridades locais. A notícia, devastadora, percorreu o Brasil e comoveu milhares nas redes sociais.
Mas o que poucos sabiam é que essa não seria a última vez que o Monte Rinjani cobraria seu preço.
Apenas alguns dias após a morte de Juliana, um novo acidente voltou a colocar a montanha sob os holofotes. Um turista da Malásia — cujo nome ainda não foi divulgado — também escorregou em uma área crítica da trilha. O desfecho, desta vez, foi menos trágico: ferido, mas vivo, o homem foi resgatado a tempo. Recebeu atendimento médico e está em recuperação. Mas a mensagem que paira sobre a região é clara e incômoda: há algo de errado — ou negligenciado — nesse paraíso natural.
Beleza letal
O Monte Rinjani não é uma trilha qualquer. Com seus mais de 3.700 metros de altitude, ele é o segundo ponto mais alto da Indonésia. Seu apelo visual é indiscutível: crateras vulcânicas, lagos de águas azul-turquesa e vistas que parecem saídas de um cartão-postal. Mas a realidade para quem o enfrenta de perto é bem diferente do que se vê nas fotos de Instagram.
Trechos estreitos, instabilidade do solo, mudanças bruscas de clima e altitude que desafia até mesmo os mais atléticos. É nesse cenário deslumbrante, mas traiçoeiro, que muitos aventureiros acabam subestimando os riscos.
“A montanha não perdoa erros, por menores que sejam,” alertou um guia local, em entrevista à imprensa indonésia. Ele conta que já presenciou dezenas de situações de risco — desde desmaios por exaustão até quedas por distração. “As pessoas vêm em busca da paisagem, mas esquecem que estão enfrentando um desafio físico e psicológico.”
Um alerta ignorado?
A sequência de acidentes reacendeu um debate urgente: o quanto as autoridades locais estão preparadas para garantir a segurança dos visitantes? E, por outro lado, os turistas estão realmente conscientes da dificuldade da trilha que escolheram?
A administração do Parque Nacional de Rinjani informou que está revisando a sinalização e os protocolos de segurança. Mas para muitos especialistas, isso pode não ser suficiente. “O problema não é só estrutura, é também a romantização da aventura. Subir o Rinjani exige preparação, equipamento adequado e conhecimento técnico,” afirmou um montanhista indonésio que atua como voluntário em missões de resgate.
Juliana não foi a primeira, e provavelmente não será a última a ser surpreendida pela força da natureza. Sua morte expõe uma verdade incômoda: a beleza da montanha pode ser uma ilusão sedutora — e perigosa.
A fronteira entre o sonho e o abismo
O que torna o Monte Rinjani tão fascinante também o torna tão letal. Sua trilha é a linha tênue entre o sonho e o abismo. Entre o êxtase de chegar ao topo e o risco de jamais voltar.
Não se trata de afastar turistas, nem de demonizar a prática do montanhismo. Mas sim de reconhecer que a natureza selvagem exige respeito, preparo e, acima de tudo, humildade.
Enquanto o vento sopra nas encostas do Rinjani e o céu parece tocar a terra, um aviso ecoa em silêncio: nem todo paraíso está livre de perigos. E às vezes, é justamente o silêncio da montanha que grita mais alto.
