POLÍTICA

Mauro Cid decide não comparecer ao julgamento no STF devid… Ler mais

O julgamento que promete movimentar a cena política e jurídica do país nos próximos dias já começa a ganhar contornos mais definidos e intensos. No centro da polêmica está o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que decidiu não comparecer pessoalmente à sessão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). O colegiado analisará a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República sobre uma suposta trama golpista atribuída a integrantes próximos do ex-presidente. A ausência de Cid levanta questionamentos sobre a estratégia de sua defesa e adiciona ainda mais tensão a um processo que tem potencial de repercussão histórica.

O nome de Mauro Cid se tornou conhecido do grande público após vir à tona seu papel central em investigações envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Considerado um dos auxiliares mais leais do chefe do Executivo à época, Cid esteve envolvido em episódios que vão desde a gestão de agendas oficiais até suspeitas de articulação em esquemas ilegais. Agora, ele passa a ser figura-chave em uma acusação que busca esclarecer se houve, de fato, uma tentativa de abalar a ordem democrática no Brasil. Ao optar por não estar presente no julgamento, o militar deixa claro que pretende evitar exposição pública, mas a ausência não o isenta do peso político e simbólico que o caso carrega.

O STF, por sua vez, trata a denúncia como uma oportunidade de reafirmar sua posição no cenário institucional do país. A Corte tem sido, nos últimos anos, alvo de intensos ataques, principalmente vindos de setores mais radicalizados que se identificam com o bolsonarismo. Nesse contexto, a análise do caso de Cid funciona não apenas como um julgamento individual, mas como um marco da resposta do Judiciário a ameaças que, segundo a acusação, atingiram a própria estrutura do Estado democrático. A forma como os ministros conduzirão a sessão será acompanhada de perto por diferentes atores políticos e pela sociedade civil, ampliando a carga simbólica do processo.

A defesa de Mauro Cid sustenta que não há provas consistentes que demonstrem participação efetiva do militar em uma conspiração para derrubar instituições. Argumenta, ainda, que seu cliente estaria sendo utilizado como peça de pressão contra Jair Bolsonaro, alvo indireto de diversas frentes investigativas. Do outro lado, a acusação aponta para indícios de reuniões, documentos e mensagens que sugerem a preparação de medidas antidemocráticas, nas quais Cid teria atuado como articulador ou, ao menos, facilitador. Esse embate entre narrativas, que opõe a tese da inocência à de envolvimento direto, deve guiar a análise dos ministros e influenciar o debate público.

Não é apenas o destino de Cid que está em jogo. O julgamento abre espaço para que se discuta a responsabilidade de militares no cenário político recente e até onde vai a linha que separa a obediência hierárquica da participação ativa em planos que desafiem a Constituição. Além disso, a repercussão do caso pode atingir diretamente Jair Bolsonaro, já que seu ex-ajudante é visto como um elo fundamental para compreender a extensão de possíveis articulações golpistas. Dessa forma, cada palavra proferida na sessão, cada voto anunciado pelos ministros, terá peso não apenas jurídico, mas também político, em um momento em que o país ainda se recupera das cicatrizes deixadas pelos atos de 8 de janeiro.

A sociedade civil e entidades ligadas à defesa da democracia acompanham o processo com expectativa. Para muitos, o julgamento é um teste de fogo para a solidez institucional brasileira: se o STF conseguirá enviar uma mensagem clara de que tentativas de ruptura não serão toleradas. Já para setores ligados ao bolsonarismo, há a leitura de que se trata de mais uma etapa de perseguição política, alimentando um discurso que encontra eco entre apoiadores fiéis do ex-presidente. Essa polarização, mais uma vez, expõe as fissuras da sociedade brasileira, em que o campo político e o jurídico se entrelaçam de forma intensa e, muitas vezes, conflituosa.

Independentemente do desfecho, o julgamento de Mauro Cid promete marcar um capítulo decisivo na história recente do país. Seja pela dimensão das acusações, seja pelo simbolismo de um militar de alta patente ligado ao núcleo íntimo de um ex-presidente ser colocado diante da mais alta instância judicial, o caso carrega todos os elementos de um momento definidor. A ausência de Cid no plenário pode até ser estratégica, mas não diminuirá o impacto de cada decisão, cada voto e cada interpretação que saírem do Supremo. Nos próximos dias, o país estará com os olhos voltados para o STF, aguardando sinais de como a democracia brasileira enfrentará um de seus maiores testes.