Bolsonaro manda com recado para Trump pedindo q… Ver mais

Em tom de conspiração, ex-presidente fala em “ajuda de terceiros” e reforça laços com Donald Trump em meio a novas investigações
Um auditório lotado, bandeiras do Partido Liberal tremulando discretamente ao fundo e câmeras voltadas para o centro do palco. Foi nesse cenário que, na tarde desta sexta-feira (30), o ex-presidente Jair Bolsonaro subiu ao púlpito durante o 2º Seminário Nacional de Comunicação do PL, em Fortaleza, para fazer um discurso que rapidamente gerou repercussão nacional — e internacional.
Com a voz pausada e tom firme, Bolsonaro lançou uma frase que pairou no ar como uma nuvem carregada de significado: “Não venceremos sozinhos. Precisamos da ajuda de outro país do norte.”
O ex-mandatário, inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), referia-se, sem nomear diretamente, aos Estados Unidos. A menção, envolta em mistério, não demorou a provocar interpretações sobre o verdadeiro alcance de suas palavras — seria um aceno a aliados políticos americanos? Um apelo velado a Donald Trump? Ou uma provocação direta ao Judiciário brasileiro?
“Com a ajuda de Deus… e de terceiros”
A fala completa, feita diante de uma plateia atenta e entusiasmada, veio carregada de insinuações. “Não é fácil, mas nós venceremos. Com a ajuda de Deus e também com a ajuda de outro país lá do norte. Enganam-se aqueles que pensam que só nós temos condições de reverter esse sistema. Não temos. Precisamos de ajuda de terceiros”, afirmou Bolsonaro, numa declaração que levantou mais perguntas do que respostas.
Embora não tenha citado nomes, a referência ao “país do norte” foi amplamente interpretada como os Estados Unidos, especialmente à luz de seu histórico relacionamento com o ex-presidente americano Donald Trump. “Muitas coisas fizemos juntos, e outras ficaram para o futuro”, disse, mantendo o tom de parceria estratégica.
Um aliado sob pressão
O contexto do discurso não poderia ser mais simbólico. Nos bastidores da política internacional, corre a informação de que o governo dos EUA avalia sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com base na Lei Magnitsky — mecanismo jurídico que permite aos Estados Unidos penalizarem estrangeiros acusados de violar direitos humanos.
Na semana anterior, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, mencionou publicamente a possibilidade de Moraes entrar na mira das sanções. O cenário foi alimentado pela presença de Eduardo Bolsonaro nos EUA, onde o deputado licenciado afirma estar “buscando apoio internacional contra arbitrariedades do STF”.
Essa movimentação resultou em mais tensão. Alexandre de Moraes determinou a abertura de um inquérito para investigar a atuação de Eduardo no exterior. Bolsonaro, por sua vez, não perdeu a chance de defender o filho. “Se estivesse no Brasil, ele não ficaria sem passaporte. Ele estaria preso. Estou feliz por ele estar fora”, declarou, em tom de alerta.
Suspense e estratégia?
O discurso de Bolsonaro parece ter sido cuidadosamente construído para manter uma narrativa de resistência, mistério e articulação internacional. O uso de frases vagas, mas sugestivas, alimenta teorias de conspiração e reforça a imagem de um líder em conflito com as instituições — especialmente o Supremo Tribunal Federal.
Analistas políticos ouvidos pela reportagem avaliam que o ex-presidente busca manter a base mobilizada em torno de um enredo de “perseguição política”, enquanto amplia pontes com setores conservadores internacionais. A ligação com Trump, relembrada no discurso, é vista como parte dessa estratégia de legitimação fora do país.
Apesar de inelegível, Bolsonaro continua sendo figura central no tabuleiro da direita brasileira. Suas declarações, mesmo que cercadas de ambiguidades, moldam o discurso do PL e impulsionam mobilizações.
“A batalha é global”
Em outro trecho marcante do discurso, Bolsonaro sugere que a disputa não é apenas nacional: “A nossa luta não se restringe ao Brasil. Estamos enfrentando um sistema global, uma estrutura que quer sufocar valores, tradições, liberdades.” A fala, carregada de teor ideológico, reforça o sentimento de “cruzada” que seus apoiadores costumam expressar.
Mesmo com a Justiça brasileira se aproximando cada vez mais dele — Bolsonaro virou réu por suposta tentativa de golpe de Estado —, o ex-presidente se apresenta como combatente ativo, agora com foco além das fronteiras.
Entre o palco e o tribunal
Enquanto Bolsonaro discursava em Fortaleza, os bastidores da política nacional ferviam com especulações sobre novos desdobramentos judiciais. A oposição vê em suas declarações uma tentativa de deslegitimar o sistema democrático. Já seus apoiadores enxergam um líder que não se cala diante do que consideram injustiças.
Em meio a discursos, investigações e articulações internacionais, uma coisa é certa: Jair Bolsonaro ainda movimenta as peças com habilidade. E sua mais recente fala, envolta em mistério, deixa claro que o jogo político está longe de terminar.
