Frente a frente com Bolsonaro, Alexandre de Moraes diz que hoje ele vai s… Ver mais

Uma semana que promete estremecer o cenário político nacional começa com um encontro que há meses domina os bastidores de Brasília: o ex-presidente Jair Bolsonaro frente a frente com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O palco? A sala da Primeira Turma do Supremo. O motivo? Os interrogatórios cruciais do núcleo central acusado de planejar um golpe de Estado.
A partir desta segunda-feira (9), os olhares do país se voltam para os depoimentos que podem redefinir os rumos da investigação mais sensível desde o fim da ditadura militar. O núcleo duro da suposta conspiração, formado por oito nomes de peso do alto escalão militar e político do governo Bolsonaro, será interrogado um a um — sob o comando direto do ministro Moraes, com reforço de segurança e atenção redobrada nos corredores do STF.
Quem são os protagonistas dessa trama?
Sentados na primeira fileira, os réus surgem quase como personagens de um enredo de tensão crescente. Entre eles, militares de alta patente, ex-ministros e o próprio ex-chefe do Executivo. À frente, Alexandre de Moraes e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. A configuração, simbólica e direta, carrega um peso que vai além do processual: representa um momento histórico de confronto entre instituições e indivíduos que já dividiram — ou desafiaram — o poder.
O primeiro a depor será Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e peça-chave da investigação, graças ao acordo de delação premiada firmado com a Justiça. O restante seguirá por ordem alfabética. Bolsonaro será o sexto. O único a falar remotamente será Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil, hoje preso.
A presença física dos demais — incluindo o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier; o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres; o ex-ministro do GSI, Augusto Heleno; e o deputado federal Alexandre Ramagem — adiciona uma camada de tensão à atmosfera já eletrificada da Corte.
Interrogatórios no centro da cena
A estrutura montada para os depoimentos não deixa dúvidas sobre a seriedade do momento. Cada réu será chamado individualmente ao centro da sala de sessões, onde duas cadeiras os aguardam: uma para ele, outra para seu advogado. A ordem dos questionamentos também reforça o caráter meticuloso da sessão.
Primeiro fala Moraes, na condição de juiz instrutor. Depois, Gonet assume a palavra em nome da acusação. Por fim, os advogados de defesa poderão intervir — respeitando a ordem de interrogatório.
A movimentação no STF deve seguir até a sexta-feira (13), dependendo do tempo necessário para cada depoimento. Fontes próximas à Corte já alertam que os ânimos podem se acirrar. E, apesar do tom solene esperado, o clima deve ser de confronto velado — principalmente quando Bolsonaro ocupar a cadeira no centro da sala, encarando Moraes diretamente.
Crimes e acusações: o peso do processo
Dos oito réus, sete enfrentam um pacote de cinco acusações graves: tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio público. O único a ter uma lista reduzida é Alexandre Ramagem, que responde por três acusações, por conta de prerrogativas parlamentares que lhe foram parcialmente reconhecidas.
A decisão de manter as acusações contra Ramagem — mesmo após a Câmara tentar blindá-lo — mostra que o STF não pretende aliviar a pressão. Os ministros sustentam que, à época dos supostos crimes, ele ainda não detinha mandato e, portanto, não estava protegido por imunidade parlamentar.
A hora da verdade
Esse momento vai além de um simples rito processual. O que está em jogo é o coração de uma suposta tentativa de ruptura democrática — e a possível responsabilização de figuras que estiveram no topo do poder até poucos meses atrás.
Nos corredores do Supremo, o sentimento é claro: algo importante está prestes a acontecer. E para a sociedade brasileira, esta semana poderá trazer não apenas respostas, mas também mais perguntas. Que verdades Mauro Cid irá revelar? Como Bolsonaro se posicionará frente a Moraes? E até onde vão os fios dessa complexa teia?
Seja qual for o desfecho, uma certeza já se impõe: a história está sendo escrita no centro de Brasília — e seus próximos capítulos poderão redefinir a política brasileira por muitos anos.
